Artigo de opinião-- Ai a gasolina… - Adérito Rafael
Ai a gasolina…
Como todos podemos experienciar os preços da gasolina e do
gasóleo sentiram um aumento, chegando mesmo a gasolina a custar 2 EUR o litro.
Muito se falou sobre as razões deste aumento de preços, alguns disseram que
seria pela escassez do petróleo, outros afirmaram que seriam os impostos demasiado
abusivos, e ainda se ventilou a hipótese de que seriam as distribuidoras e as
produtoras a aumentar drasticamente o seu lucro. Talvez de certa forma cada uma
destas afirmações esteja correta, no entanto acredito que é preciso analisar
este assunto com a devida atenção aos detalhes.
Quanto aos impostos, efetivamente, são representativos no
preço final da gasolina e do gasóleo, atingindo quase 60% do preço. Mas na verdade
é que, mesmo antes da subida do preço a carga fiscal já era bastante significativa,
não tendo existido nenhuma subida na carga fiscal que pudesse ter causado esta
subida de preços. Quanto à margem de lucro dos postos de venda, esta desceu
comparativamente aos anos anteriores. O mesmo não acontece às refinarias e
produtoras, que conseguem margens cada vez maiores.
Mas então a que se deve esta subida de preços? Pois, se não
foram os impostos que subiram, nem as distribuidoras que batem recordes de lucro,
será pela escassez do petróleo e da continuação do alto nível de procura que os
preços sobem? Na verdade, o petróleo é efectivamente um bem escasso, mas a
falta de reservas petrolíferas no planeta Terra, não justifica a subida de
preços, o que pode justificar é a diminuição da produção. Em termos de reservas
desta matéria-prima, ainda não se chegou ao momento de as produtoras quererem
refinar o petróleo e não o poderem fazer por falta dele.
O que está a acontecer é uma coisa muito diferente, as
empresas do setor energético são, a nível mundial, as empresas que mais
investem em energias renováveis. Pelas últimas décadas tem existido um enorme
investimento, em investigação, desenvolvimento e produção de mais e melhores
tecnologias na área das energias renováveis. Acredito que podemos estar a
vivenciar o momento em que estas empresas estão a promover veementemente a
transição entre as energias não renováveis para as renováveis. O que a
acontecer, atenção, está correto e é algo que se tem de ser feito. Mas a
maneira como está a ser feito, vai ter consequências arrasadoras. A subida no
preço dos combustíveis tem implicações a nível, muitas das vezes, muito
superior ao que as pessoas imaginam. A nossa economia continua muito assente na
necessidade de combustíveis. A subida de preços dos combustíveis fará com que
muitas transportadoras tenham de fechar algumas rotas devido ao consumo de
combustível por parte dos camiões. Temos um exemplo prático, a RodoNorte já
fechou algumas das suas rotas nacionais.
A maneira como está a ser feita esta mudança tem de ser mais
controlada, sob pena de corremos o risco de em pouquíssimos anos o preço da
gasolina e do gasóleo estar muito mais acima do que hoje está. Podemos então
pensar em medidas que os governos possam tomar para suavizar esta mudança. Até
podemos pensar na redução do imposto sobre os combustíveis, mas esta será de
certa forma contraproducente tendo em conta o objetivo da descarbonização. Tendo
tudo isto em conta, penso que será inevitável uma descida nos preços dos combustíveis
causada pela redução de impostos. Mas esta não pode ser a única medida. Para
resolvermos um problema como este necessitamos de reais investimentos na
ferrovia, de modo que as transportadoras possam começar a optar pelo comboio ao
invés dos camiões. Necessitamos de mais incentivos, de modo a tornar as viagens
em veículos sustentáveis, elétricos, hidrogénio, etc. cada vez mais baratas e
cada vez mais possíveis para toda a população. Se isto não acontecer, aliada a
uma conduta não regulada nem supervisionada das produtoras petrolíferas
poderemos vir a viver um momento de atraso, social e económico, pois tanto a
opção de ter um veículo a combustíveis fósseis como ter um veículo sustentável
serão incomportáveis.
Autor: Adérito José T.S.A. Rafael