Artigo de opinião-- Presidenciais, -- Adérito Rafael
Presidenciais
Desde já quero dar os meus parabéns e faço votos para um próspero
mandato ao nosso Presidente da República. Os resultados destas eleições não
foram muito surpreendentes, o Marcelo Rebelo de Sousa venceu com uma
avassaladora diferença. Ana Gomes e André Ventura tiveram resultados próximos,
mas Ana Gomes fica à frente. André Ventura não chega aos 15% (ficando pelos
11,9%). Tiago Mayan consegue 3,22%, mostrando que a direita liberal existe e
está a crescer. João Ferreira fica com 4,32% e Marisa Matias pelos 3,95%,
mostrando que não teria sido má ideia ter desistido e apoiar a candidatura de
Ana Gomes, Vitorino Silva fica pelos 2,94%.
Considero importante realçar que estamos a falar em presidenciais
e não em legislativas. Embora tenha sido Marcelo quem ganhou as eleições, a
atenção esteve centrada no segundo lugar. Em primeiro lugar, embora André
Ventura tenha tido quase meio milhão de votos, convêm lembrar que será muito
difícil ele conseguir converter o voto que teve nas presidenciais numas
legislativas. O bom resultado de Ventura nestas eleições deve-se a:
1- O PS não ter apoiado Ana Gomes. O PS ao não ter apoiado a
candidata da sua área, passou a mensagem de que era para Marcelo ganhar. Assim
muitos socialistas acabaram por se abster ou votar Marcelo. Com um menor número
de votos Ana Gomes acabou por ficar quase com os mesmos votos de Ventura, facto
que se o PS a tivesse apoiado não teria acontecido.
2- Existirem três candidatos de esquerda. Quando a esquerda
vê que Ana Gomes está com dificuldades em superar Ventura, deveriam ter desistido
e unido as suas forças para que Ana Gomes pudesse ter uma vantagem mais
confortável relativamente ao candidato de extrema-direita.
3- Nem Marcelo nem o PSD terem feito campanha. Embora a sua
vitória, Marcelo, não fez praticamente campanha, tendo mesmo abdicado do tempo
de antena que lhe era permitido usar. Mas também Rui Rio poderia ter feito
muito mais do que fez, no que toca ao apoio e à mobilização das pessoas a votar
no candidato de centro direita.
4- A pandemia. A conjuntura atual acabou por favorecer André
Ventura, já que muito do eleitorado se absteve. Mas não só por causa disso. A
crescente onda de desemprego e crise veio aumentar a sua popularidade, já que o
seu discurso de falso profeta, que embora não ofereça nenhuma solução real
oferece respostas sem nexo, mas que pessoas desesperadas ou muito insatisfeitas
aceitam.
5- O discurso de André Ventura. No fim de contas, o seu
discurso é reflexo do resultado eleitoral. O seu discurso cavalga na
insatisfação devido às medidas socialistas que foram implementadas nos últimos
anos. Disseminando um espírito de divisão, que em conjuntura de crise são
sempre aceites por alguma parte da população. No fundo Ventura aproveita o
facto das pessoas já estarem cansadas da esquerda para as puxar para o seu extremismo.
Para mim estes foram as cinco principais razões do seu
resultado.
Última nota para a transferência de votos que parece ter
ocorrido no Alentejo, o eleitorado que deveria ter votado João Ferreira, votou
Ventura, os extremos de algum modo acabaram por se tocar, e o eleitorado da direita
conservadora, tradicionalmente CDS tivesse votado também em Ventura.
Por toda a análise que apresento, parece-me impossível, que
o chega tenha um resultado perto deste numas legislativas, existe uma grande
diferença entre legislativas e presidenciais.
Também Tiago Mayan pode dizer que saiu com um bom resultado.
Embora só tenha conquistado 3,22% dos votos, ao contrário de Ventura, a probabilidade
de a Iniciativa Liberal andar perto dos 134 mil votos não me parece difícil. Os
eleitores de Mayan ou são da abstenção ou da ala liberal do PSD. Acredito que a
iniciativa liberal esteja sim a conquistar votos da abstenção, mas penso que
iremos descobrir nas legislativas quanto do eleitorado de Mayan era do PSD.
Relembro que a Iniciativa liberal era a ala mais liberal do
PSD e que decidiu sair. Penso que podemos estar a assistir a uma fragmentação
da Direita moderada, algo que nunca é bom. De qualquer forma, os meus parabéns
a Tiago Mayan Gonçalves, que no início da campanha tinha pouco mais de 1% nas
sondagens e conseguiu acabar com 3,22% na sua primeira candidatura em eleições
presidências.
Autor:Adérito Rafael