Portugal é um país estranho!
Viver em Portugal estando atento aos acontecimentos da esfera
política e económica é sem dúvida uma experiência interessante. Em Portugal as
coisas funcionam, por vezes, de forma no mínimo estranha.
Como todos sabemos estamos hoje a viver um momento de entrada
em mais uma grande recessão, os próximos tempos não são de forma alguma
animadores. Desde a subida dos juros até á inflação galopante mudam a vida dos
europeus, infelizmente, para pior. Medidas de apoio vão ser colocadas pelos
governos, mais gastos públicos virão para tentar compensar a crise, com a
subidas dos juros os países periféricos como Portugal, Itália, Grécia, que tem
problemas de sobre-endividamento vão sofrer com a subidas dos juros. Muitos são
os problemas e as consequências que esta nova crise trouxe e irá trazer. Mas,
há algo que todos já sabemos que irá acontecer. A classe média vai sofrer.
Por falar em classe média, quando em cima disse que certas
coisas funcionam de forma estranha, a maneira como a classe média é tratada em
Portugal é uma dessas coisas. Em todos os países desenvolvidos, a proteção da
classe média é uma prioridade, já em Portugal, penso que seja um consenso que o
não é. Ter uma classe média saudável é de extrema importância para um país. É a
classe média que sustenta um Estado. É a classe média que produz e faz
realmente avançar o país. Por mais que as pessoas da classe média não sejam os
investidores milionários que vêm criar emprego, é a classe média que vai
trabalhar, vai agregar valor ao país. A classe média, tem de ser protegida,
pois são essas pessoas que fazem avançar as empresas, são essas pessoas que por
estarem sempre a lutar pela subida no elevador social acabam por ser os maiores
contribuidores para o Estado. Temos de ser realistas, quem realmente tem
elevadas taxas de esforço não é a classe baixa nem a classe alta. A classe
baixa, por que não consegue ter recursos para se manter a si muito menos teria
para contribuir. A classe alta, porque tem os recursos necessários para que se
torne praticamente impossível de os taxar a partir de um certo ponto.
Por regra, os países esforçam-se para não taxar muito a
classe média, para ela ter mais dinheiro disponível ou então taxam-na, mas
entregam serviços públicos correspondentes a essa taxação. A razão para isto é
clara, é necessário manter a classe média motivada a querer produzir mais que a
classe baixa, até porque assim se estimula a classe baixa a querer subir para a
média, e a média a aspirar chegar á classe seguinte. Em Portugal fizemos um
misto das duas abordagens faladas em cima, a classe média é muito taxada e
claramente não lhe é entregue o devido em serviços públicos.
Como disse no início deste artigo, estamos a entrar em mais
uma forte crise. Não creio que a melhor abordagem seja a que temos tido nos
últimos anos. Não se pode continuar a ignorar que o salário das pessoas
qualificadas esteja estagnado. Segundo um estudo da fundação Gulbenkian[1]
“a
trajetória descendente do salário médio real que se iniciou em 2011 só se
inverteu de 2016”, “Entre 2002 e 2017, o salário-base médio real cresceu 0,32%
ao ano”.
Tem de se tomar mediadas, tem de se aliviar a
carga fiscal às pessoas! Não podemos ter uma classe média a pagar de 22% a quase
37% de taxa media do seu salário em IRS. Até porque, em cima deste vem a
segurança social a 11%, e todos os impostos indiretos. Segundo a OCDE, no
estudo “Taxing Wages 2022”, entre 2000 e 2021, a carga fiscal sobre o
trabalhador solteiro médio em Portugal subiu de 37,3% para 41,8%.
Temo, no entanto, que este não seja o caminho que
a atual liderança do nosso país irá tomar. Desejo que me engane, mas o mais
provável a acontecer, com base no comportamento do executivo nos últimos anos,
é que mais medidas existencialistas, que penhoram o futuro em troca de medidas
muito pouco eficazes no presente, sejam implementadas, mais escândalos e
decadência económica. Termino, no mesmo tom do início do artigo, dizendo que os
próximos anos não serão fáceis, a inflação veio piorar ainda mais a situação.
Mais uma vez temos a oportunidade de começar a tomar as decisões certas, ajudar
as pessoas e a economia, mas temos um governo socialista com maioria absoluta,
assim sendo, só mesmo esperando que Bruxelas saiba o que está e vai fazer…
[1] O Salário Médio em Portugal – Retrato atual e
evolução recente, da autoria de Priscila Ferreira (U. Minho), Marta
C. Lopes (European University Institute) e Lara P. Tavares (Centro de
Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa), e os
briefs Alavancar o Salário no Talento (preparado
pelo ISEG), Efeitos de Diferentes Tipos de Políticas Económicas na
Promoção do Crescimento dos Salários: Evidência Internacional (preparado
pelo PROSPER – Center of Economics for Prosperity, da Católica Lisbon School of
Business & Economics, Universidade Católica Portuguesa) e Especialização Produtiva e Salários: Propostas para
Qualificar Portugal (preparado pelo Centro de Estudos Sociais –
Laboratório Associado da Universidade de Coimbra) que permitem aprofundar o
tema.
O preço do cabaz alimentar português é similar ao alemão, os salários nas atividades que produzem esses mesmos bens são muito desiquilibrados. Qual a razão que justifica que se pague o mesmo valor por um kg de arroz em Portugal e na Alemanha, e os salários em Portugal sejam substancialmente inferiores aos alemães?
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