Bom senso na escola, precisa-se: Proibição... a nova estratégia para combater os maus hábitos de alimentação.
Sou professor numa escola
pública e vejo agora o meu trabalho prejudicado e dificultado com esta medida
fundamentalista e de efeitos perversos.
Como posso colaborar na
educação dos alunos quanto a refletirem e a tomarem boas opções relativas a hábitos
alimentares saudáveis na escola e fora dela, se a medida de intervenção é
proibir, interditar, vedar certo tipo de alimentos?
Como posso explicar que o mais
importante não é proibir nem enveredar-se por dietas alimentares extremistas e
desequilibradas, mas antes aprender, conhecer os alimentos e informar-se do que
deve ser associado a um consumo moderado e com especial atenção? Para que esta
aprendizagem possa ser significativa, os alunos têm de treinar e esse treino,
na escola, realiza-se através das suas decisões e opções face aos desafios e
situações-problema reais.
A Educação coabita com a
Liberdade responsável e a Ordem dos Nutricionistas nos louvores que tece a este
diploma legal, revela o perigo de técnicos se imiscuírem em territórios educativos
e de com boas intenções, implementarem estratégias erradas.
A História revela incontáveis
insucessos relacionados com proibições de cariz fundamentalista a que se
sucederam radicalismos no sentido oposto ("é proibido proibir").
Se algo desta dimensão é
proibido, o nosso papel enquanto educadores fica diminuído; qual o valor de uma
escola que cada vez mais se afasta dos problemas reais que a vida em sociedade
nos coloca?
Para aprendemos a resolver
problemas temos de nos confrontar com esses mesmos problemas e a escola é um
local privilegiado para essa vivência, reflexão e exercício de autonomia, de
responsabilidade e de cidadania. Eliminar alguns desses problemas na escola,
criando uma realidade artificial e incoerente (MacDonalds, pastelarias,
supermercados perto da escola com toda uma oferta diversificada e acessível;
influência/pressão nociva da comunicação social), não é boa política.
Isto aplica-se ao extremismo
de tudo se permitir na escola (a oferta nutricional é claramente antissaudável)
ou simplesmente, de se proibir tudo o que pode ser antissaudável quando
associado a um consumo sem moderação.
O equilíbrio e um bom
acompanhamento por profissionais de educação (estes bem esclarecidos por
nutricionistas/técnicos que não são educadores) poderá fazer a diferença na
alteração desejável dos comportamentos alimentares.
Em conclusão: na escola, em particular, à
solução simples de se proibir, sobrepõe-se o valor de se investir em educar.
Na escola, mais importante do que proibir (neste contexto em que a moderação e a informação são mais importantes do que simplesmente proibir) é educar, refletir, aprender através da vivência de situações-problema. Não necessitamos de proibir o arroz doce, o rissol e a empada cozinhados no forno e com boa composição nutricional, e por aí fora. Podemos iniciar com a eliminação (bom senso, moderação e intervenção progressiva e gradual) da oferta de pacotes de salgados e outros doces carregados de emulsionantes, estabilizadores e por aí fora. Temos de educar os alunos em contextos de «não proibição» pois estes são os contextos reais de vida. A menos que estejamos perante «consumíveis» em que a moderação não é opção pelo facto de serem prejudiciais à saúde em qualquer contexto e proibidos em qualquer situação (e não apenas nas escolas). Esta é a minha opinião e compreendo opiniões diversas pois algo de mais importante nos une: contribuirmos para uma alimentação mais saudável dos mais novos e assim, determinar comportamentos igualmente sadios em fase adulta.
ResponderEliminarApresento 2 sugestões.
ResponderEliminarEm cada Agrupamento, um grupo de Alunos e Encarregados de Educação representativos deste, após sessões de esclarecimento e debate, decidem sobre:
1) Um conjunto de alimentos que não devem ser disponibilizados nessas escolas (definir-se até 6 a 10 ... unidades);
2) Através de um investimento prévio no software associado aos cartões dos alunos para efeitos de realização de pagamentos, decidir quanto a um grupo de alimentos considerados prejudiciais à saúde quando consumidos sem moderação, o n.º máximo de unidades/semanal que qualquer aluno pode consumir (controlo através do software associado aos cartões de pagamento).
Desta forma, vigorariam na escola normas que resultariam da vontade da comunidade educativa local, favorecendo-se a adesão às mesmas, suscitando-se a sua compreensão, promovendo-se a educação alimentar (no verdadeiro sentido de desenvolvimento de competências: adquire-se conhecimentos e age-se de acordo com essas aprendizagens) e enfatizando-se a capacidade de decisão dos Alunos/EEs, a autonomia dos alunos e a compreensão de que há um problema de hábitos alimentares que pode ser resolvido com a colaboração de todos.
Mantenho que Proibir por Despacho não é a solução e ninguém melhor do que os Professores para definirem as melhores estratégias apoiados por técnicos competentes em diversas áreas.
O conceito de Liberdade que consta no texto acima pressupõe a responsabilidade e limites, mas privilegia os limites definidos pela Comunidade Educativa em relação aos definidos através de um decreto (neste assunto da Educação Alimentar). Liberdade de optar refere-se sobretudo aos Alunos e EEs definirem (em cada Agrupamento) os alimentos nocivos que a escola não deve disponibilizar. A adesão e o impacto educativo seriam maiores se esta decisão fosse tomada pelos próprios. Acrescentaria para alguns alimentos, a decisão tomada por Alunos e EEs sobre um determinado limite no seu consumo semanal. Concordo totalmente que devem existir limitações/proibições, mas utilizaria outra estratégia, envolvendo Alunos e EEs a definirem (liberdade responsável, com limites, balizada e bem esclarecida por nutricionistas e professores) nesta definição. Liberdade noutro sentido (sem regras, sem orientações) seria absurdo e intolerável.
ResponderEliminarCorreção do comentário (23 ago., 17h46): "... envolvendo Alunos e EEs nesta definição (liberdade responsável, com limites, balizada e bem esclarecida por nutricionistas e professores)." Rui Pires
ResponderEliminarIdealizo uma escola em que os projetos educativos relevantes resultam da coautoria dos diversos intervenientes no processo educativo (intervenção direta e indireta) de forma a fomentar-se a compreensão, a corresponsabilização e a adesão na fase de concretização.
ResponderEliminarAcredito que a construção coletiva de projetos educativos beneficia do envolvimento da comunidade escolar (ainda na fase decisória) de forma a garantir o maior desenvolvimento possível das competências associadas à participação ativa na vida social e em concreto na vida escolar.
Não entendo que a responsabilidade e a competência dos docentes e responsáveis políticos seja afetada, mas antes valorizada pois além de definirem e coordenarem os trâmites deste processo, afirmam-se através de outro tipo de liderança caracterizada pela mediação e acompanhamento.
Acredito que este é o principal caminho (não exclusivo) para os Alunos valorizarem uma escola que lhes faça sentido, para aproximar os Encarregados de Educação da escola e para se implementar uma efetiva vivência democrática nas escolas.
Quanto à educação alimentar, valorizo a tomada de decisão dos alunos sobre quais os alimentos que não pretendem consumir na escola (processo de decisão bem orientado por professores, nutricionistas, …) e quanto a outros em relação aos quais importa moderar o seu consumo (de forma a facultar-se decisões regulares do género: se comer um determinado doce à 2af. e 3af., não o poderei consumir à 4af., 5af. e 6af.).
Estas são as decisões que terão de tomar por toda a vida pois quando forem autónomos ninguém os proibirá do disparate de comprarem 6 bolas de berlim e as comerem de uma vez só. Importa treinar estas competências já, enquanto meninos: o que comer e quanto.
Rui Pires